terça-feira, 4 de outubro de 2016

Vida: há esperança !

Há esperança ainda
uma coisa briga por mim
interna, como resquício
de algo maior que é indiferente.

No indivíduo ainda há uma vida pulsante
mesmo contra uma poderosa contrária corrente.
Um ser interno que de tudo o defende ante
todo o mal que nele invade abruptamente.

Parece que no mundo ainda não estamos abandonados.
Algo quer ser, a despeito das dores
mesmo no domínio do menor dos seres,
mesmo no erro e dos consequentes horrores.

Vida: há esperança !
Mesmo sendo tu causa perdida.

A vida briga por mim, quieta.
Inconsciente sigo aceso.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Somos os olhos de Deus

O homem não é nada mais que os olhos de Deus.
Os olhos múltiplos por onde um Deus cego
quis ver e sentir sua colossal criação.
Os olhos diversos, perspectivistas
que Deus optou para ver diferente cada canto e coisa.
Deus tinha apenas uma visão unilateral
e sacrificou-a, pois ter uma visão unilateral
e onisciente, não é verdadeiramente ver, é apenas ser. É estático.
Deus quis ver a vida e quis ver até o cego em sua cegueira,
Deus quis ver o prazer e a dor no seu mundo, sem nenhum preconceito.
Deus quis ver a carne dilacerada e também a flor que brota.
Deus quis ver a neve na montanha e o choro da criança.
Deus quis ver a gargalhada do amigo e o sufoco do desesperado.
Deus quis ver o fogo, o papel amarelado, a bactéria microscópica, o mar batendo na rocha,
a explosão atômica, o ovo na frigideira,  a lua, a noite, o produto do artesão, as máquinas,
os anéis da cebola, o diamante, os excrementos, a fumaça, o vidro, o batom na boca da mulher...
Deus só quer ver. Por sermos seus olhos, nos deu a consciência.
Somos nós que escolhemos o que ser visto, nós também somos os responsáveis por muito do que é visto .
Nós buscamos, nos movemos, Deus agradece. Chora conosco ás vezes.
Cada indivíduo é uma visão única de Deus do mundo, única e temporária, de infinitas possíveis.
E somente quando perder o pasmo, a curiosidade,
Deus dormirá e apagará o mundo para sempre.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Nós, os malditos

Nós, os malditos, velejamos deitados em plena escuridão.
nenhum sonho paira sobre nossa cabeça,
nenhuma busca fútil social toma nossa vontade.

Nós, os malditos, com olheiras na face pálida encaramos o velho nada.
engolimos vorazmente o doce néctar posto no fugaz da horas,
nenhum ideal eternizamos na superfície mole da realidade.

Nós, os malditos, vivemos daquilo que só nós mesmos damos valor.
não nos atormenta a suposta injustiça perante almas alhures,
preferimos admirar rosas escuras e secas sobre a terra infértil e fria.

Nós padecemos da nossa vertiginosa degradação natural
em um mundo esquecido.





domingo, 28 de agosto de 2016

Sempre aquém do supralunar

O mundo aqui é cinza e o céu é azul
A pintura lá em cima é arte e aqui
em baixo parece algo esquecido.
Lá em cima as coisas brilham e aqui só piscam de
maneira artificial.
Acima só há imagem, aqui há confusão e barulho de
línguas.
Tanto tempo sonhando o acolher eterno do inalcançável
ó humanidade.
Pereces dentro de ti própria, não crias o maior no mundo
apenas transfigura o real.
Jamais atingirás a abóboda que paira sobre sua cabeça.
Assuma sua lama.
Fecha os olhos e dorme
criaturinha.