sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Gott ist tot - Nietzsche


"Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! " é uma citação muito polêmica e muito comentada do filósofo alemão de fins do século XIX - Friedrich Nietzsche. Nem cabe aqui falar a importância desse pensador para a história da filosofia e, principalmente para a filosofia contemporânea. O pequeno trecho mostrado no começo vem de sua obra "A Gaia Ciência" de 1882. Gott is tot ! significa Deus está morto! na língua nativa de Nietzsche, o alemão.
Muitos adolescentes que estão adentrando ao pensamento filosófico e vão direto para o pensamento nietzschiano,  querem polemizar, mostrando seu ateísmo através dessa frase do filósofo. Porém uma coisa tem de ser explicada - esta frase não tem nenhuma relação com "ateísmo" , e não faz sentido usá-la para este fim, por incrível que pareça. Nietzsche ultrapassa a discussão em relação a existência ou não do divino. Nietzsche quer dizer realmente o que então? Fundamentalmente a fala tem dois caráteres -  a discussão em torno da recusa da metafísica platônica (que é a base do cristianismo, para ele) causada pelo avanço extremo da razão esclarecedora  e, consequentemente, a transformação da sociedade da sua concepção de Deus. 

As discussões em torno do "metafísico" não fariam sentido mais para a sociedade guiada pela razão. O filósofo Kant já havia demonstrado que ''as coisas em si'' (ou seja, as formas ideais, puras, metafísicas) eram incognoscíveis, só poderíamos apreender os 'fenômenos', isto é, as coisas que nos aparecem, que aparecem a nossos sentidos. Porém, Deus é um ser metafísico, então sua compreensão seria de difícil alcance para a razão. 
Pra que dar importância então a aquilo que não poderíamos conhecer ? Começavam os filósofos pós-Kant a abandonar o dualismo e a focar nos fenômenos. É o que a corrente Positivista, por exemplo, procurou fazer, com seu pensamento extremamente cientificista. 
Filosofias desse tipo pensavam que a discussão em torno da metafísica não tinha mais sentido sentido, sendo campo do abstrato e da especulação. 
Esse abandono em torno das discussões metafísicas seria então, de certa forma, a morte de Deus. Nietzsche via que essa recusa do  metafísico atingia o conceito de Deus.
Porém, como Nietzsche mostra, o lugar de Deus não poderia ficar vago. A razão não seria suficiente para ocupar esse lugar . Isso quer dizer que o homem não abandonaria a idéia do absoluto, a idéia de Deus por completo. A metafísica, o sentimento do Absoluto estaria inerente ao homem, e ele, hipócrita que é, acharia um meio de fazer com que Deus pudesse coexistir com a razão. Mas para Nietzsche isso não seria mais possível, e o processo da razão esclarecedora seria inexorável. A única coisa que é possível e resta agora são apenas réquiens para Deus, as Igrejas passam a ser somente um túmulo simbólico de Deus onde os homens prestariam sua missa réquiem. É errôneo então utilizarmos a expressão para mostrar que a religião enfraqueceria, pois é a concepção de Deus que se transforma. A religião continuaria, mas não seria mais a mesma.  Nietzsche chega a dizer - "Deus está morto: mas, considerando o estado em que se encontra a espécie humana, talvez ainda por um milénio existirão grutas em que se mostrará a sua sombra".
O forte consumismo característico da era pós-morte de Deus seria também um sintoma da sociedade, que quer preencher seu vazio.Um sintoma de seu niilismo. Antes, Deus era a finalidade da vida, e tudo girava-se em torno dele (como é característico na sociedade medieval). Porém, com o advento da razão esclarecedora, e depois, o advento da sociedade de consumo, Deus passou a ser somente o 'meio', o meio para ser realizado os fins, que seria a realização do Homem em sua vida, sua felicidade. Passar de fim para meio é também, de certa forma, a morte de Deus.

É claro que não é facil explicar, tampouco compreender. Mas espero que esta tentativa de explicação tenha esclarecido um pouco dessa célebre expressão de Nietzsche. Esse certamente é um filósofo que para se compreender é preciso um conhecimento prévio da história da filosofia. Que essa explicação sirva para novas buscas. (recomendo aqui, para maior compreensão de Nietzsche - o autor Oswaldo Giacóia Jr)

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